sábado, 29 de janeiro de 2011

Quem desafia toque de recolher está em perigo, diz governo do Egito


Quem não respeitar a medida sofrerá 'sanções legais', destacou o governo.
Clérigo islâmico diz que derramamento de sangue é proibido por lei religiosa.


O toque de recolher nas três principais cidades egípcias Cairo, Alexandria e Suez foi prorrogado por mais um dia. A medida foi anunciada neste sábado (29) pelo governo por meio da televisão estatal egípcia. De acordo com a declaração, quem não respeitar a medida estará exposto às ações de repressão da polícia e poderá sofrer "sanções legais". A polícia tenta reprimir os manifestantes desde terça-feira (25).

Um comunicado militar pediu que o “grande povo do Egito” respeite o toque de recolher, que começará duas horas mais cedo, a partir das 16h (horário local), e será encerrado uma hora mais tarde, às 8h do dia seguinte. Nesta sexta-feira, a ordem não  não foi respeitada. As forças armadas também pedem à população que se protejam de saqueadores.
A TV estatal também divulgou a manifestação do clérigo islâmico, dizendo que o derramamento de sangue por muçulmanos é proibido por lei religiosa.
O presidente Hosni Mubarak mandou soldados e tanques para a capital Cairo e para outras cidades. O envio de tropas do exército para ajudar a polícia mostrou que Mubarak ainda tem o apoio dos militares, a força mais poderosa do país. Porém, qualquer mudança de opinião dos generais poderá selar o seu destino.
Neste sábado, tanques foram posicionados nas vias que levam à praça Tahrir, no Cairo, que estava cheia de entulho, pneus e madeira queimados, usados como barricadas durante a noite.
Ataque ao Ministério do Interior
A polícia abriu fogo contra cerca de 1 mil manifestantes egípcios que tentavam invadir o Ministério do Interior, no Cairo, neste sábado. A reação teria acontecido após um grupo de pessoas atirar contra o prédio e só parou quando tanques de guerra foram enviados ao local.
Na ação, a polícia teria matado pelo menos três manifestantes, de acordo com a rede de televisão Al Jazeera.
Também no Cairo,  tanques do exército egípcio e tiros disparados no ar foram usados para controlar pessoas que tentavam atacar a entrada do prédio do Banco Central, onde é impresso o papel moeda. Os manifestantes usavam pedaços de madeira e desistiram da abordagem depois de ouvir os tiros.
Ministros renunciaram
A televisão estatal egípcia afirmou neste sábado (29) que o gabinete de ministros do Egito anunciou oficialmente a renúncia após dias de protestos da população contra o governo de Hosni Mubarak.
Porém, o anúncio não será suficiente para conter a onda de protestos no país. Mais cedo, antes da declaração oficial, o líder opositor Mohamed ElBaradei, afirmou que Hosni Mubarak terá de sair. Segundo ele, o discurso do presidente foi "praticamente um insulto à inteligência das pessoas." El Baradei, chefe da Assembleia Nacional para a Mudança, chegou na última quinta-feira (27) ao Cairo.
Em um pronunciamento televisionado nesta sexta-feira, Mubarak havia afirmado que um novo governo seria formado neste sábado, além de prometer reformas, após quatro dias de vigorosos protestos em todo o país exigindo sua saída.
Mortes
A agência de notícias Reuters apurou com fontes médicas, hospitais e testemunhas que pelo menos 74 pessoas foram mortas em protestos em todo o Egito. Ainda não há dados oficiais. Segundo o levantamento, 68 mortes foram registradas nas cidades do Cairo, Alexandria e Suez durante os protestos de sexta-feira.
Antes disso, fontes de segurança disseram à Reuters que pelo menos seis pessoas, incluindo um policial, havia sido mortas.
Neste sábado, fontes médicas disseram à agência que cerca de 2 mil pessoas ficaram feridas em todo o país, porém com mais protestos em movimento, esse número pode aumentar. Pelo menos trinta corpos foram levados para o hospital de El Damardash no centro do Cairo nesta sexta-feira (28).
A Associated Press apurou que o total de mortes desde o início das manifestações, que começaram nesta semana, já soma 35 pessoas, o que inclui 10 policiais.
Protestos continuamMilhares de manifestantes se concentram neste sábado na principal praça de Alexandria, no centro da cidade, e dizem que não vão embora enquanto Mubarak não anunciar a renúncia. Eles entraram em conflito com a poícia da cidade. De acordo com testeminha, houve tiros.
A capital o Egito, Cairo, também amanheceu repleta de manifestantes nas ruas. Nesta manhã, no Cairo, um supermercado foi saqueado em um subúrbio da cidade, onde vive uma grande comunidade de estrangeiros. O supermercado, de uma empresa francesa, fica dentro de um shopping. Na noite de sexta-feira, também houve diversos saques em vários bairros do Cairo.
Os protestos não foram interrompidos durante a madrugada, quando a população quebrou o toque de recolher. A noite foi iluminada por prédios e carros em chamas.O toque de recolher foi imposto pelas Forças Armadas em uma tentativa de acabar com as manifestações que assolam o país pedindo o fim do regime de Mubarak. Os infratores estariam sujeitos a "procedimentos legais ".
Os conflitos mais intensos entre população e forças de segurança aconteceram na cidade de Ismailia, onde a polícia tentou controlar a população com gás lacrimogênio e balas de borracha.
Bancos
Em meio aos protestos, o Banco Central do Egito afirmou que os bancos do país ficarão fechados neste domingo. De acordo com Hisham Ramez, a medida visa evitar que a população, assustada com as manifestações, retire suas economias dos bancos. Segundo o representante do Banco Central, todas as contas estão seguras e a reserva do país é forte. "Qualquer fuga de capital por investidor estrangeiro será de curta duração", afirmou Ramez neste sábado à Reuters.

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